Anna

O mundo que conhecemos já não existe. Um vírus devastou o planeta, acabando com todos os adultos. As crianças, que estão imunes até à puberdade, vivem em grupos selvagens, lutando pelas poucas coisas comestíveis que os adultos lhes deixaram. Na Sicília, a natureza está a recuperar o que outrora fora dela, abafando as cidades com a sua vegetação enchendo as carcaças de velhos veículos com hera. Não há eletricidade nem água corrente. Escondidos numa quinta de família, no bosque, estão os irmãos Salemi. Anna tem 14 anos e Astor tem oito. O esqueleto da mãe ainda está na cama de casal. Todos os dias, a rapariga sai em busca de comida, chegando a ir até Palermo. Um dia, ela encontra um grupo de crianças, pintadas com tinta azul, nas ruínas de um prédio. São os seguidores da maléfica Angelica. Diz a lenda que ela tem um adulto preso algures, cujo beijo pode salvar do vírus. Anna foge com Pietro, um rapaz em que, instintivamente, confia. Ele leva-a no seu primeiro passeio numa scooter. Quando chega a casa, Astor está à sua espera. O rapaz está convencido de que há pássaros gigantes a envenenar o ar no exterior da floresta e que só a irmã sabe como os enfrentar. Foi o que Anna lhe disse, para o proteger dos perigos do exterior.

Após tratar do pequeno Astor, Anna parte à procura de mantimentos, como faz todos os dias. Mas, depois, decide procurar Pietro, que vive como eremita nas margens de um lago, onde cultiva tomate. Vão nadar juntos e, depois, deitam-se na areia e partilham memórias de outrora, da vida antes do vírus. Mas o tempo baralha-lhes as memórias. Um grupo de azuis, atraído pela fogueira que Astor acendeu perto de casa, aparece na quinta. O rapaz acha que são fantasmas e eles, agressivamente, obrigam-no a segui-los até à mansão de Angelica. Quando Anna chega a casa e descobre que o irmão desapareceu, fica mergulhada num desespero. De madrugada, mais determinada do que nunca, ela decide partir em busca de Astor. Ela pede ajuda a Pietro, mas ele não quer ter nada a ver com os azuis. Pelo caminho, Anna para no último supermercado que resta, para procurar um mapa da Sicília. Aí, encontra um miúdo sádico, chamado Mario, que a atrai para uma armadilha…

Astor é mergulhado num poço de tinta azul, tornando-o um dos seguidores da maléfica Angelica. Entretanto, Anna ficou presa na cave do supermercado. Mario diverte-se a torturá-la e trata-a como a um cão. Pietro vem à procura dela e ela ouve-lhe a voz ao longe. Ela consegue chamar-lhe a atenção e libertar-se. Anna quer continuar a sua busca pelo irmão, mas Pietro discorda, e os dois voltam a discutir. Anna chega ao portão da mansão de Angelica. Dúzias de crianças amontoam-se no exterior da residência, com ofertas, à espera de conseguirem entrar e de serem salvos da Febre Vermelha. Anna consegue arranjar forma de entrar. No entanto, é apanhada desprevenida e, de repente, vê-se como protagonista do circo de horrores de Angelica. Uma Anna aterrorizada canta “Big in Japan” e Angelica fica extasiada. Ela anuncia que quer Anna ao seu lado no espetáculo que está a encenar para revelar a Grande Menina aos andrajosos súbditos. A última adulta que resta no mundo e a única capaz de salvar as pessoas da Febre Vermelha com um beijo.

Após a festa noturna, Anna acorda no quarto da rainha. Enquanto todos os outros dormem, ela parte em busca do irmão. No entanto, Astor quer ficar com os azuis. Agora que descobriu que há mais meninos no mundo, não quer continuar fechado em casa. Quando Angelica descobre que Anna está a tentar fugir, prende-a e obriga-a a brincar à apanhada. Mas este jogo tem uma diferença, quem for apanhado, morre. Na tentativa de fugir, Anna é mordida por uma víbora e desmaia. Quando acorda, vê-se frente a frente com a Grande Menina. Mas quem é o único adulto vivo no mundo? Ela chama-se Katia. Era costureira numa aldeia e era muito introvertida antes da Febre Vermelha. No mundo de antes, Katia conheceu Ginevra, a irmã de Angelica, e apaixonou-se perdidamente por ela. Anna é presa numa das alas da mansão e vigiada por três pequenas ameaças: a Cinderela, o Capuchinho Vermelho e a Branca de Neve. Nos longos dias de convalescença, ela consegue estabelecer contacto com Katia. Mas Angelica decidiu que quer casar com Anna. Astor consegue entrar em contacto com a irmã, que lhe diz para ir pedir ajuda a Pietro.

Anna e Katia preparam-se para a cerimónia de casamento. Quando Angelica entra para garantir que está tudo pronto, cai na cilada letal delas. Uma vez libertada, Katia decide ficar na mansão, a cuidar dos azuis, enquanto Anna volta a partir sozinha. Quando encontra Pietro, descobre que Astor nunca foi ter com ele. Mas o pior de tudo é que repara que Pietro está coberto de manchas. Ele ficou doente. Os dois partem juntos, em busca de Astor, atravessando campos e estradas desertas, mas não há rasto dele. Anna está desesperada, mas decide acompanhar Pietro, que quer ver o monte Etna antes de morrer. Quando chegam lá, Anna e Pietro têm de enfrentar a oposição de um grupo de jovens rufias, que se declaram donos do vulcão.

Astor ainda está com Ndraveche e o seu teatro de marionetas. Quando dorme, vê, nos sonhos, a mãe. Ela diz-lhe para voltar para a irmã, que é a única pessoa que será sempre capaz de o proteger. Entretanto, Anna está de regresso a casa. Ela está desolada fisicamente, mas, sobretudo, mentalmente, após perder Pietro. Mas, ao chegar a casa, ela encontra o irmão, e a família volta a estar junta. Os irmãos decidem partir para Itália. Talvez alguém lá tenha descoberto uma cura para a Febre Vermelha. Após um longo caminho a pé, os dois encontram uma gaivota. Com alguma dificuldade, conseguem levar a pequena embarcação para a água e partem. Chegar à costa não é fácil e a corrente leva-os para alto-mar, onde perdem a última recordação da mãe, o Livro das Coisas Importantes. Mas eles já aprenderam a desenvencilharem-se sozinhos e podem sempre escrever outro. Isto, se conseguirem encontrar terra onde atracar.