Um cosmos de naufrágios, acidentes, apagamentos e salvamentos. Do Brasil Atlântico, das avós, da carta endereçada aos habitantes de Marte, criando simultaneidade entre tempo e espaço.

A macumba, o candomblé e a divindade Iku ajudam a tecer a ideia de que os mortos também se presentificam e de que as artes visuais podem revelar a presença daquilo que não se vê.

Na velocidade dos tempos atuais, a capoeira, o sonho, a empatia e a festa são elementos da arte e do viver que mostram capacidade de redimensionar as relações humanas.

Forças vinculadas à espiritualidade guiam os processos artísticos e pensamentos presentes no documentário. Nesse sentido, a dualidade entre o mundo dos vivos e dos mortos encontra na poética das obras um meio para se expressar. A Kalunga se transforma numa máquina do tempo para ver o invisível com seus olhos d´água.

Comparecem aqui práticas artísticas que ritualizam e evocam a presença dos ancestrais. A perspectiva de Odara, como um conceito de beleza útil à comunidade, se espraia ao longo das experiências retratadas nos instrumentos ritualísticos do Santo Daime, nos cantos e troncos sagrados do Kuarup, no banho de pipoca e nos Xaxarás dos cultos afro-brasileiros.

Os vestígios ganham um papel agenciador na interseção entre arte e espiritualidade, trazendo indícios daquilo que fica de uma passagem que permite aos tempos se atravessarem. As possibilidades se ampliam: o pé na lama serve para preparar a construção não apenas de uma obra de arte, mas de uma cidade inteira. Jogos de cartas, sons e imagens dissolutivas da floresta: tudo é dotado de espiritualidade