A trajetória de Andresa no tráfico começou precocemente. Filha de um casal de funcionários públicos do bairro do Cambuci, estudou em escola particular e morou em condomínio fechado durante mais de dez anos. Aos 15, perdeu o pai e começou a frequentar a favela que ficava do outro lado da rua do condomínio onde morava, no bairro do Piqueri, Zona Norte, para onde a família havia se mudado. Ela conta que ali conheceu a malandragem.

Cinco anos depois de ter partido em busca de seus sonhos, Alysson Matheus Oliveira Silva, de 25 anos, volta para casa. Ele trabalhava na noite como performer, se envolveu com entorpecentes e largou a faculdade de piano. Depois de um ano preso, ele ganha quarto, cama quente e limpa, um emprego e a compaixão dos pais. Carrega consigo, porém, várias inseguranças sobre seu futuro.

Quem vê Anderson Felipe Pereira de Carvalho de camisa social, fala segura e cabeça erguida dificilmente imagina o menino de sete anos que apanhava da mãe quando preferia ficar brincando em casa a ir atrás de comida na rua e que passou a maior parte da adolescência na Fundação Casa de São Paulo.

Os dias que passou na prisão foram só um capítulo das longas temporadas de violência que marcaram a vida de Andressa Brasil. Ao deixar o cárcere, prometeu a si mesma que nunca mais voltaria àquele lugar. Cumprir a promessa não é uma tarefa fácil para uma travesti que não sabe ler, nem escrever, e que só tem a prostituição como ofício. Mas ela vem conseguindo, um dia após o outro.

Karine Dias Vieira passou quase metade de seus 40 anos no crime. Parou ao ver um parceiro morrer por complicações decorrentes de um tiroteio, durante uma tentativa de assalto. Decidiu, então, levar uma vida dentro da lei e estender a mão a quem também quer sair dessa vida. E assim ela criou o Responsa, empresa social que ajuda a inserir egressos do sistema prisional no mercado de trabalho.

Os 23 anos em que ficou preso, 15 dos quais como integrante da organização criminosa Primeiro Comando da Capital - PCC, não embruteceram o coração de Marcelo Loreno, 47 anos. Sentado à cabeceira da mesa do belo apartamento onde vive com a esposa e a filha, seus olhos ainda marejam quando lembra do dia em que foi abandonado pela mãe, na praia de Santos. Agora, além fazer alguns bicos como pintor, Marcelo atua como voluntário junto a pessoas em situação de rua no Pátio do Colégio e na Praça da Sé.