El barco

O que aconteceria se o mundo desaparecesse durante a noite? Algo aconteceu em terra várias horas após o navio-escola Estrela Polar zarpar do porto. Após uma brutal tempestade inesperada, todos os sistemas de navegação pararam de funcionar. Sem comunicações nem respostas do outro lado, é como se o mundo que conheciam tivesse acabado. A ativação, após várias avarias, do acelerador de partículas em Genebra falhou, provocando um novo Big Bang. O que parecia ser apenas uma ameaça de um mensageiro do Apocalipse parece ter-se realizado. Felizmente, havia um “protocolo de segurança extremo” no caso de as coisas darem errado. Apenas Julia, a cientista do navio, sabe quão importante é que, durante a tempestade, o Estrela Polar se mantenha sobre a falha natural que ela definiu como coordenadas de destino. Em poucas horas, ela perceberá que algo correu mal e será obrigada a contar à tripulação uma parte do que sabe. Ainda há esperança, perante a tragédia, mas, por agora, ela decide que é melhor não contar a história toda.

Enquanto os membros mais novos da tripulação do Estrela Polar desfrutam do primeiro dia a bordo, sem terem noção da magnitude do que aconteceu, os adultos tentam, desesperadamente, encontrar respostas. De la Cuadra não consegue compreender porque não há terra onde as cartas náuticas dizem haver continentes inteiros, enquanto Julia procura por sobreviventes através de ondas sonoras. Entretanto, o capitão está convencido de que Julia sabe mais do que parece. Porque viajou ela com uma arma? Como soube ela que não era uma tempestade normal e que deviam seguir aquelas coordenadas específicas para não se afundarem? Os alunos desfrutam do primeiro mergulho em alto-mar. Menos de 24 horas desde o embarque, Piti é o responsável pela primeira partida, desapertando a parte de cima do biquíni de Ainhoa, mesmo antes de esta saltar para a água. No entanto, ninguém viu quem o fez e todos, de Ainhoa a De la Cuadra, acreditam que foi Ulises, fazendo com que o imediato decida tratar do assunto. A razão de maior temor não está no convés, afinal, mas na água. Algo mordeu a perna de Vilma, enquanto ela nadava, provocando-lhe dor. Quando Bubble apanha a estranha criatura, os colegas não conseguem acreditar, porque ninguém sabe que animal é. O que sabem, dada a sua experiência náutica, é que, seja o que for, não devia estar ali. O entusiasmo de muitos muda e o medo provocado pela tempestade afeta a pequena Valeria que, sem querer, faz xixi na cama e não sabe como o esconder do pai. O capitão parece ainda mais confuso do que a filha, já que não está habituado a lidar com essas situações, era a mulher que o fazia, e não sabe como reagir.

O capitão tenta, o mais possível, manter a rotina a bordo do navio, mas as coisas complicam-se quando um avião comercial se despenha na água, perto deles. À velocidade a que bateu na água, é improvável haver sobreviventes, mas o sonar continua a transmitir. Assim, a caixa negra tem de ser recuperada, custe o que custar. Apesar de De la Cuadra não gostar da ideia, apenas Ulises está apto a ir buscar a caixa negra, uma vez que o sinal vem de 90 metros abaixo da superfície. A gravidez de Vilma apresenta complicações e ela precisa de ir a um hospital. Quando Palomares ouve que o capitão decidiu não voltar ao porto para irem a um hospital, ele fica furioso e começa a formar-se um motim a bordo. Para que as crianças não percebam os pormenores da situação, estas foram banidas do convés. Fechados nos camarotes, os rapazes entretêm-se a escutar às escondidas as conversas das raparigas. Piti envia uma mensagem de amor a Estela em código morse, mas ela acha que é de Ramiro, de quem gosta, e aceita encontrar-se com ele. Valeria tem ouvido sons estranhos o dia todo e não consegue deixar de pensar numa história que a mãe lhe contou sobre “fantasmas piratas”: as almas de marinheiros que morreram e que andam pelo navio. O capitão, a tentar perceber como agir no seu novo papel de pai, conta a Valeira uma forma de afugentar os fantasmas…

Julia tenta dar alguma esperança à tripulação. Segundo os seus cálculos, deverá haver terra algures e eles acabarão por a encontrar, mas todos sabem que não será fácil. Não têm comida suficiente para navegar por tempo indeterminado, sem rumo. Sem fruta nem legumes, terão escorbuto em poucos meses. Sem energia, o sistema de tratamento da água não funcionará e ficarão sem água. Enquanto fazem o inventário de tudo o que têm a bordo, encontram uma caixa do ministério, que a doutora não tinha na lista dela. Quando a abrem, encontram uma pequena caixa metálica com um contador, que parece ser um cronómetro com uma contagem decrescente. Seja o que for a caixa, restam-lhes 13 horas e 22 minutos. Ramiro não consegue aceitar o que está a acontecer e está convencido de que é tudo uma experiência, de que são cobaias e de que está alguém a estudar as reações deles. Tenta encontrar um aliado em Piti, para convencer os colegas, mas este está mais preocupado em usar a situação para se aproximar de Estela. Dizendo que é a forma perfeita para se manterem entretidos, Piti convence a doutora a organizar encontros rápidos.

Mais de 40 000 aves, esfomeadas e cansadas, vão em direção ao navio. Estão a voar desde o cataclismo e procuram terra para descansar e comer. São uma ameaça, uma vez que precisam de comer e a tripulação do Estrela Polar poderá ser a sua próxima refeição. Bubble acredita que a situação é culpa sua, uma vez que encontrou um pequeno pardal caído de um ninho e parece bastante óbvio que os pais o vêm salvar. De la Cuadra dá uma reprimenda ao capitão devido ao comportamento de Ainhoa, após esta ser apanhada a ter um romance a bordo sem o pai a impedir. O capitão não considera que a vida amorosa de Ainhoa seja um problema, uma vez que ainda a vê como uma criança e considera o seu comportamento completamente inocente. No entanto, muda de opinião quando descobre quem é o namorado da filha. Palomares está convencido de que, dadas as circunstâncias, precisam de uma capela no navio, mas o capitão recusa. Este diz que o Estrela Polar é um navio apolítico e secular, um facto que não vai mudar por o mundo ter mudado, mas Palomares não desistirá tão facilmente.

A fome tem impacto no caráter e na paciência de alunos e professores e, depressa, começam os protestos. Gamboa aproveita a oportunidade para desafiar a autoridade do capitão e propõe uma votação para decidirem quem devia comandar o navio. Entretanto, o navio avança rapidamente, apesar de os motores estarem parados e as velas recolhidas. Descobrem porquê quando se apercebem de que um redemoinho gigante está a puxar o navio a toda a velocidade. A doutora explica que os oceanos se estão a reajustar após o cataclismo e que milhões de metros cúbicos de água estão à procura do seu lugar numa planeta inundado. Por isso, isto é só o início. Quando acreditam que o pior já passou, o navio bate em alguma coisa e para de repente. O navio encalhou e começa a rachar.